O EROS GREGORIANO – por Diác. Júlio Ferreira, SCJ


Olá amigos do CommunioSCJ, é grande alegria que volto para comentar este grande santo no qual sou muito devoto. São Gregório de Nissa é um dos membros da minha comunidade interior.

Gregório nasceu em Cesaréia, na Capadócia, por volta do ano 331 D.C. Ele faz parte da fraternidade abismal dos “homens de diamante” que receberam a denominação de capadócios, cuja influência e busca de buscar o único essencial marcou a história cristã.

Ele dizia que “ser cristão não é retrair-se, timidamente, em suas crenças de formas sectária, mas abrir-se para questões de sua época, tentando dar-lhe uma resposta à luz da experiência e da graça”.

O Eros gregoriano é o caminho que deve percorrer o desejo do homem em direção à realidade da qual ele é sedento. Para Gregório, a causa do sofrimento e do mal estar do homem é a sua separação do real, a saber: a ignorância do Ser que ele conserva, apesar da espessura do esquecimento, a nostalgia e o desejo. Por seu parentesco com o infinito, o homem transforma-se em um animal insatisfeito, um ser de desejo.

“Com efeito, do mesmo modo que, graças aos princípios luminosos de que é constituído, o olho participa da luz e, em virtude deste poder inato, atrai para si aquilo que tem a mesma natureza, assim também com uma certa afinidade com o divino foi misturada com a natureza humana para lhe inspirar, por meio desta correspondência, o desejo de se aproximar do que lhe é aparentado”(Discurso catequético).

O desejo não surge do homem, mas é criado por essa afinidade com a natureza divina que Deus depositou
 em nós. “Assim, o homem dotado de vida, de razão, de sabedoria e de todas as vantagens divinas, a fim de que cada uma delas faça surgir nele o desejo pelo que lhe é aparentado”.

Neste caso, apesar se existir no homem criado à “imagem e semelhança de Deus” um desejo pelo que lhe é aparentado, esse desejo permanece livre. “O homem é um espelho livre”, Gregório indica com precisão necessária que é preciso tirar a ferrugem para que a luz possa refletir. Não basta reconhecer o desejo é preciso purificá-lo.

O espelho voltado para o caos reflete o caos, enquanto voltado para a luz, ele próprio torna-se luz. “Tornamo-nos o que observamos, tornamo-nos o que amamos”.

Como afirmava o Evangelho: “Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6,21). Daí, a importância da vigilância e do discernimento em relação ao “obscuro objeto de nosso desejo”. São Gregório de Nissa sempre se perguntou: o que merece verdadeiramente ser amado? Formular esta pergunta é fazer apelo ao conhecimento que irá iluminar o desejo e a vontade a fim de orientá-los em direção “ao que verdadeiramente É”.

Boa meditação! Deus abençoe a todos!

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