ASSUNÇÃO DE MARIA, DOGMA DE NOSSA IGREJA


No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a Assunção de Maria, tema da liturgia do próximo domingo. Vamos nos preparar lendo o artigo de Reinaldo Reis, Assessor para Comunidades da RCCBRASIL, sobre esse dogma de nossa religião. 

 “Mas lá de dentro do fundo da terra do chão da cova eu ouvia a vozinha da Virgem Maria dizer que fazia sol lá fora. Dizer insistentemente que fazia sol lá fora”.
(Trecho do poema “A Virgem Maria”, de Manuel Bandeira)

Que motivos temos nós, cristãos católicos, para rejubilarmo-nos e celebrar com reverência e fé a solenidade da Assunção de Maria ao céu?

Acredito ser reconfortante para todos os mortais sabermos que, no Paraíso celeste, junto ao trono da glória eterna, pulsam também dois corações formados da mesma natureza humana que a nossa: o coração misericordioso do Filho de Deus, que “se fez carne” (Jo 1,14), e o coração materno e intercessor de Maria (Jo 2,3), a filha predileta do Altíssimo, Mãe do Cristo, parceira do Espírito Santo!

E essa nossa fé na Assunção da Virgem aviva em nós a esperança de que Maria é aquilo que um dia também seremos. É garantia para todos nós daquela salvação plena que Jesus não só prometeu, mas também realizou com sua morte, ressurreição e ascensão aos céus...

Diz-nos o Concílio Vaticano II: “Do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja, que há de atingir a sua perfeição no século futuro, assim também já agora na terra, enquanto não chega o dia do Senhor (cf. 2 Pd 3,10), ela brilha, como sinal de esperança segura e de consolação, aos olhos do povo de Deus peregrinante”. (Lumen Gentium, nº 68)...

Como se realizou a Assunção de Maria? Como foram seus últimos dias na Terra? Morreu ela tendo logo ressuscitado e sido levada ao céu? Ou, por ter sido de tal modo isenta do pecado, não padeceu a morte?

O Senhor cercou de certo mistério o fim de Maria e a Sagrada Escritura não nos oferece indicações precisas
 sobre o término de sua existência terrena, nem se foi morta ou não. A Bíblia nos mostra, entretanto, a profunda comunhão, a estreita unidade que ela manteve com a pessoa e a obra de Seu Filho.

Se ela, conforme a Promessa (Gn 2,15), fora isenta de qualquer pecado, era natural que seu corpo estivesse também isento das penas e das conseqüências do pecado, não podendo, deste modo, sofrer a corrupção do túmulo. Ela deveria, como Seu Filho, ser beneficiada pela completa vitória d’Ele sobre o pecado e, na sua gloriosa Assunção-Ressurreição, deveria completar essa vitória.

A bula que proclamou como verdade dogmática o mistério da Assunção (Munificentissimus Deus) conclui sua exposição de motivos com estas palavras: “Assim como a gloriosa ressurreição de Cristo é um aspecto essencial e um último troféu dessa vitória, convinha que também a luta da Virgem, unida a Seu Filho, terminasse pela glorificação de seu corpo virginal, realizando-se então n’Ela as palavras de São Paulo: “A morte foi tragada pela vitória” (I Cor 15,54).

Não nos deve, pois, causar estranheza o fato de Deus preservar da corrupção do sepulcro e levar consigo para o Paraíso aquele corpo do qual Ele próprio tomara o seu e no qual fora gerado. Afinal, Jesus é carne da carne de Maria e sangue do seu sangue. Natural, portanto, que, por especial privilégio do Altíssimo (assim como o foi sua imaculada conceição), o seu corpo, unido à sua alma totalmente isenta do pecado, fosse glorificado e assunto ao céu.

Do ponto de vista teológico, a Assunção aparece como uma conseqüência das graças singulares de Maria. É quase uma exigência de sua Dei-maternidade, de sua vida cheia de graça, “de sua singular participação na Ressurreição de Seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos” (Catecismo da Igreja Católica, nº 966).

A Tradição da Igreja sempre acreditou, com uma consciência cada vez mais clara e definida, na assunção de Maria aos Céus em corpo e alma – ponto alto da redenção que transfigurou toda a sua vida. Por isso, a proclamação deste dogma, em 1º de novembro de 1950, simplesmente confirmou solenemente e com autoridade a secular fé da Igreja: “Era preciso que a Mãe da Vida partilhasse (também) a Mansão da Vida” (São Germano de Constantinopla).

Voltemos aos versos do início... e ansiemos também por ouvir um dia, a exemplo do poeta, a doce e confiante voz da Virgem Maria a dizer-nos que para além do sepulcro, para além das trevas da morte, está o Sol da Justiça (Mal 4,2a), está a Luz do Mundo (Jo 8,12), está a Ressurreição e a Vida (Jo 11,25). Aleluia!

Por Reinaldo Reis

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