Acompanhe a catequese
dada por Bento XVI, na qual o papa nos exorta a necessidade de guardarmos as
coisas boas em nosso coração e meditarmos sobre elas, as aplicando em nossa
vida. Esta é uma bonita forma de oração cujo nosso maior exemplo é a mãe de Jesus.
Queridos irmãos e irmãs:
Maria chegou ao Paraíso e este é o nosso destino: nós
podemos alcançar o Paraíso. A pergunta é: como? Maria já chegou; Ela – diz o
Evangelho – é aquela que “acreditou que o que lhe foi dito da parte do Senhor
será cumprido” (Lc 1,45). Portanto, Maria acreditou, confiou-se a Deus, entrou
com sua vontade na do Senhor e, assim, estava no caminho direto, na via rumo ao
Paraíso. Crer, confiar-se ao Senhor, entrar em sua vontade: esta é a direção
essencial.
Hoje eu não gostaria de falar sobre este caminho de fé, mas
somente sobre um pequeno aspecto da vida de oração, que é a vida de contato com
Deus, isto é, sobre a meditação. O que é a meditação? Meditar quer dizer “fazer
memória” do que Deus fez e não esquecer dos seus muitos benefícios (cf. Sal
103, 2b). Frequentemente, vemos somente as coisas negativas; devemos ter em
nossa memória também as coisas positivas, os dons que Deus nos fez, estar
atentos aos sinais positivos que vêm de Deus e recordá-los. Portanto, falamos
de um tipo de oração que, na tradição cristã, é conhecida como “oração mental”.
Nós conhecemos normalmente as orações com as palavras; naturalmente, também a
mente e o coração devem estar presentes neste tipo de oração, mas, neste caso,
falamos de uma meditação que não está feita de palavras, mas que é uma forma de
contato da nossa mente com o coração de Deus. E Maria, nisso, é um modelo muito
real.
O evangelista Lucas repete, várias vezes, que Maria
“guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (2,19; cf. 2,51b).
Quem guarda não esquece. Ela está atenta a tudo o que o Senhor lhe disse e fez,
e medita, ou seja, tem contato com diversas coisas, aprofundando nelas dentro
do coração.
Aquela que, portanto, “acreditou” no anúncio do Anjo, que se
tornou instrumento para que a Palavra eterna do Altíssimo pudesse se encarnar,
acolheu também em seu coração o admirável prodígio desse nascimento
humano-divino, meditou sobre ele, se deteve diante de tudo o que Deus estava
realizando nela para acolher a vontade divina em sua vida e corresponder a ela.
O mistério da Encarnação do Filho de Deus e da
maternidade de Maria é tão
grande, que exige um processo de interiorização; não é somente algo físico que
Deus realiza nela, mas algo que exige uma interiorização por parte de Maria,
que busca aprofundar no conhecimento, interpretar o sentido, compreender suas
implicações e consequências. Assim, dia a dia, no silêncio da vida cotidiana,
Maria continuou guardando em seu coração os maravilhosos acontecimentos
posteriores de que foi testemunha, até a prova extrema da cruz: seus deveres
cotidianos, sua missão de mãe, mas soube manter em si um espaço interior para
refletir sobre a palavra e a vontade de Deus, sobre o que acontecia nela mesma,
sobre os mistérios da vida do seu Filho.
Em nossa época, estamos sendo absorvidos por muitas
atividades e compromissos, preocupações, problemas; muitas vezes se tende a
preencher todos os espaços do dia, sem ter um momento para parar, meditando e
nutrindo a vida espiritual, o contato com Deus. Maria nos ensina quão
necessário é encontrar em nossas jornadas, com todas as atividades, momentos
para recolher-nos em silêncio e meditar sobre o que o Senhor quer nos ensinar,
sobre como Ele está presente e age no mundo e na nossa vida: ser capazes de
parar um momento e meditar. Santo Agostinho compara a meditação sobre os
mistérios de Deus à assimilação dos alimentos e usa um verbo que aparece em
toda a tradição cristã: “ruminar”. Que os mistérios de Deus, que ressoam
continuamente em nós até se tornarem familiares, guiem a nossa vida, nos
alimentem, como acontece com o alimento necessário para sustentar-nos. E São
Boaventura, referindo-se às palavras da Sagrada Escritura, diz que “devem ser
rumiadas para que possamos fixá-las com ardente aplicação no ânimo” (Coll. In
Hex, ed. Quaracchi 1934, p. 218). Meditar, portanto, quer dizer criar em nós
uma situação de recolhimento, de silêncio interior, para refletir, assimilar os
mistérios da nossa fé e o que Deus opera em nós. Podemos fazer esta meditação
de várias formas, tomando, por exemplo, uma breve passagem da Sagrada
Escritura, sobretudo dos Evangelhos, dos Atos dos Apóstolos, das cartas dos
Apóstolos, ou talvez uma página de algum autor espiritual que nos aproxima e
torna mais presentes as realidades de Deus no nosso hoje; talvez também
buscando o conselho do confessor ou do diretor espiritual, ler e refletir sobre
o que se leu, parando para pensar nisso, procurando compreender, entender o que
diz a nós, no dia de hoje; abrir nossa alma ao que o Senhor quer nos dizer ou
mostrar. Também o santo terço é uma oração de meditação: repetindo a Ave Maria,
somos convidados a refletir sobre o mistério que proclamamos. Podemos nos deter
também em qualquer experiência espiritual intensa, nas palavras que ficam
impressas na participação da Eucaristia dominical. Portanto, como podem ver, há
muitas maneiras de meditar e de ter contato com Deus, de aproximar-nos dele e,
dessa forma, estar no caminho rumo ao Paraíso.
Queridos amigos, a constância em dedicar tempo a Deus é um
elemento fundamental para o crescimento espiritual; é o próprio Senhor quem nos
dará o prazer pelos seus mistérios, pelas suas palavras, pela sua presença e
ação, por sentir quão belo é que Deus fale conosco; Ele nos fará compreender de
maneira mais profunda o que quer de nós – afinal, este é o objetivo da
meditação: colocar-nos cada vez mais nas mãos de Deus, com confiança e amor, na
certeza de que somente fazendo a sua vontade seremos, finalmente, felizes.
Fonte: Zenit