EVENTOS: PORTAS DE ENTRADA OU FINS EM SI MESMOS?
Nossas lideranças têm investido um tempo precioso para
organizar eventos, mas as pessoas que frequentam nossos encontros são
estimuladas a participar de nossos Grupos? Elas passam a ter uma vivência
eclesial? Tornam-se compromissadas com o anúncio, ou estão vivendo de encontro
em encontro em busca dos “aspectos gloriosos” da caminhada?
Eu gostaria de convidá-lo (la) a lembrar-se do último
encontro que você ajudou a organizar ou esteve presente. As pregações
estavam ungidas? A música foi boa? As pessoas foram "tocadas"? Provavelmente
você dirá que “sim”. É característica nossa. Por mais simples que sejam, nossos
encontros costumam ser muito bons. Neles testemunhamos o operar do Espírito
Santo. E isso não pode mudar nunca, porque faz parte do nosso jeito de ser. Mas continuemos nossa reflexão. Quem eram as pessoas que
estavam naquele encontro de carnaval, cenáculo, retiro de primeiro anúncio ou
naquele show que promovemos? Quem eram aqueles que escutaram nossas lindas
músicas? Alguns deles nós até vimos chorar. Quem eram? E outra questão mais
importante: onde esses irmãos estão agora?
Na semana seguinte ao evento, eles foram para algum dos
nossos Grupos de Oração? Começaram a trilhar uma caminhada no seio da Igreja
Católica? Se não foram, você saberia dizer qual a razão? Ou melhor, quais as
razões? Claro, não podemos controlar a vida das pessoas, nem queremos isso. Não
teríamos essa pretensão, mas, lamentavelmente, é preciso admitir algo: muitos
que lá estavam não foram a um dos nossos Grupos simplesmente porque não foram
convidados. É triste constatar isso!
Eis uma história verídica: um jovem, que vivia o drama da dependência química, teve um encontro pessoal com Jesus Cristo em um tradicional evento de carnaval da RCC e foi liberto desse drama, mas, por incrível que pareça, ele saiu do encontro sem saber quem o havia promovido. Sabe por quê? Porque ninguém, em nenhum momento, falou que ali estava a Renovação Carismática Católica e que se as pessoas quisessem
Temos perdido a oportunidade de pastorear as pessoas, de
cuidar delas, porque geralmente quando o assunto é “evento”, temos nos ocupado
muito como o “antes”, com o “durante”, mas temos esquecido o “depois”. Precisamos
refletir seriamente sobre isso. Os nossos eventos não devem ter um fim em si
mesmos. O que isso significa? Que eles têm que estar conectados com o todo do
trabalho evangelizador que somos chamados a desenvolver. Não podem acontecer de
forma isolada. Devem estar inseridos em nossas atividades, de forma a
complementá-las, fortalecê-las.
Façamos um raciocínio: Qual é a base da nossa estrutura como
Movimento? O Grupo de Oração! Onde somos chamados a servir o Senhor, onde
vivemos nossa espiritualidade no dia a dia? No Grupo! Este ano, de forma
insistente, temos sido lembrados desse caráter evangelizador dos Grupos de
Oração da RCC. Eles são ambientes de missão por excelência.
Como, então, podemos fazer encontros sem contemplá-los? Ao
preparar um evento (qualquer um) temos que pensar em estratégias para a
manutenção do nosso trabalho de evangelização. É o pastoreio! Afinal, ao
lançarmos as sementes, várias possibilidades conspiram contra o nosso trabalho.
Foi Jesus quem nos alertou a esse respeito. Em Mateus 13, ao
falar sobre o semeador, Ele mostra que de quatro tentativas, apenas uma
resultou em frutos verdadeiros.
Aquela pessoa que vimos chorando em um dos nossos eventos e depois nunca mais encontramos na Igreja pode ter dado alguns passos e ter tido sua semente roubada pelo passarinho (maligno) como o próprio Senhor explica no versículo 19. Ou ela pode ter escutado a linda música no show, apreciado com “alegria” (versículo 20), mas como não havia raízes, na primeira oportunidade, pode ter abandonado a caminhada.
Ou, quem sabe, anunciamos para alguém cujos cuidados com o
mundo o impediram de abrir a porta do coração para Jesus de verdade. E ele saiu
cantarolando a música que ouviu, mas sem disposição para as renúncias exigidas
pelo Senhor.
Talvez alguns possam dizer: - “Isso não é minha responsabilidade,
a Graça é um mistério”. Sim! Mas não podemos fugir da responsabilidade para com
as pessoas a quem anunciamos a Palavra. Nós podemos minimizar as perdas.
Podemos dificultar a ação do “passarinho” que tenta roubar o que plantamos.
O Apóstolo Paulo é um grande exemplo para nós. Vejamos o
zelo que ele tinha pelas comunidades às quais apresentou a fé cristã. Ele não
anunciava e depois abandonava cada qual a própria sorte. Ele cuidava de seus
filhos espirituais. Temos que ser como Paulo.
Não podemos, com toda honestidade, nos contentarmos com um
único momento de anúncio. Devemos organizar nossos encontros como sendo “portas
de entrada”. Se não, como vamos implantar a Cultura de Pentecostes neste
mundo? Vejamos o que Bento XVI nos falou por ocasião do 45º Dia Mundial das
Comunicações Sociais sobre a Verdade que anunciamos:
“... deve tornar-se alimento quotidiano e não atração
de um momento. A verdade do Evangelho não é algo que possa ser objeto de
consumo ou fruição superficial, mas dom que requer uma resposta livre”. O Papa
escreveu isso ao referir-se à evangelização na internet, mas essa exortação
cabe bem nesse contexto que ora abordamos.
Reinaldo Beserra do Reis nos presenteia, nesta edição, com uma reflexão sobre o compromisso com o Evangelho. Na página 10, ele questiona o comportamento daqueles que se contentam em ser apenas discípulos, sem assumir o compromisso com a Missão. Nós estamos incentivando as pessoas a serem assim ou estamos cuidando para que elas se tornem cristãs convictas e atuantes?
Estamos tratando de um assunto sério. Jesus nos deixou um
parâmetro para avaliarmos se nossa evangelização deu resultados ou não: a
própria pessoa que recebeu a mensagem do Reino passa a ser uma semeadora (cf.
Mt 13,23).
Claro, não cabe a nós estipular o ritmo de crescimento
espiritual de alguém, mas podemos nos empenhar para que aquelas pessoas que
participam dos encontros que organizamos com tanta dedicação tenham a chance de
receber alimentação continuamente. Isso nós podemos fazer! Basta mudarmos um
pouquinho o nosso jeito de organizar, de nos comunicarmos.
É preciso termos coragem de autoavaliarmos. É necessário que
partilhemos com os servos esse tipo de reflexão. Formar membros do Movimento
com senso crítico. Sem deslumbramentos. Pessoas que não se deixem seduzir por
uma tal “cultura da fama”, de culto às celebridades. Esforçarmo-nos para que as
massas para as quais anunciamos sejam transformadas em verdadeiro povo de Deus.
Sobre isso falaremos na próxima edição da Revista Renovação.
Que o Espírito Santo, protagonista da Missão, nos ensine a semear para que nosso trabalho dê muitos frutos: “cem por um, sessenta por um, trinta por um” (cf. Mt 13,24).
Sugestões:
-Falar com frequência da Igreja, da beleza do catolicismo, incentivando os participantes a buscarem os Sacramentos a partir daquele encontro;
-Incluir pregações que falem da RCC. Contar aos participantes a história deste Movimento, suscitado pelo Espírito Santo. É importante que aqueles que se achegam a nós conheçam a RCC, que tem sido uma estratégia de Deus para a transformação de tantas vidas;
-Contemplar momentos e pregações que falem sobre os Grupos de Oração, incentivando, por meio de testemunhos, as pessoas a conhecê-los;
- Anunciar no palco, várias vezes, que se trata de um evento da RCC. Nas faixas e painéis que identificam o nome do Evento, escrever por extenso: Renovação Carismática Católica;
-Produzir materiais que divulguem nomes e locais de funcionamento dos Grupos da região onde o Evento acontece. Podem ser simples, impressos, xerocados, escritos à mão. Enfim, os meios que estiverem ao alcance e possibilidades financeiras dos organizadores;
-Preparar servos que farão trabalho de abordagem, conversarão, rezarão com as pessoas que estão recebendo o anúncio. Pessoas que farão um contato direto, convidando os participantes a participarem de um Grupo de Oração. Essa estratégia é fundamental principalmente nos shows de evangelização.
Lúcia V. Zolin – coordenadora nacional da comissão e Ministério
de Comunicação
Grupo de Oração Divina Misericórdia
Fonte: RCC BRASIL
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