COMO SE RELACIONAR COM DEUS?
Deus está próximo de nós e, mais do que isso, está ansioso
por participar da nossa vida. É importante destacar que o Senhor é Emmanuel,
Deus conosco. Ele é quem sempre dá o primeiro passo em direção ao homem. No
paraíso, após a desobediência de Adão, é Deus que lhe vem ao encontro em
primeiro lugar e o chama: “Adão, onde estás?” (Gn 3, 9). É sempre o Senhor quem
vai em busca do homem. Na encarnação do seu Filho, isso se torna mais
manifesto: “Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos Ele nos amado
e enviado seu Filho único para expiar os nossos pecados” (1Jo 4, 10). Esse
chamado de Deus em busca do homem - “’Onde estás?’ – palpita no interior de
todos nós o desejo, a sede de Deus. O desejo de Deus está inscrito no coração
do homem, e [...] Deus não cessa de atrair o homem para si, e somente em Deus o
homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (CIC
27). E Santo Agostinho diz que o “nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar
em vós” (Confissões nº 01).O relacionamento do homem com Deus começa com o
início da própria existência. Como lembramos no Salmo 138, desde antes de
nascer, Deus já olha por nós. O relacionamento se torna mais íntimo com o
sacramento do batismo. É lá que a criança-criatura é acolhida na família de
Deus e recebe a adoção, o caráter de filho de Deus. Isso se repete em todos os
sacramentos da Igreja: na medida em que participamos deles, vivenciamos a
pertença à Sua família. A vida da Igreja nos impulsiona ao relacionamento com
Deus. Através dos sacramentos – principalmente da Eucaristia e da Penitência –
o próprio Deus se revela ao crente. “É pelos sacramentos da Igreja que Cristo
comunica aos membros do seu corpo o Seu Espírito Santo e Santificador” (CIC
739).Nos sacramentos da Igreja, Deus se revela ao homem. “Os sacramentos da
nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a
Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o
Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos
importantes da vida do cristão: dão à fé do cristão origem e crescimento, cura
e missão” (CIC 1210). “O que a fé confessa, os sacramentos comunicam: pelos
‘sacramentos que os fizeram renascer’, os cristãos se tornaram ‘filhos de Deus’
(cf. Jo 1, 12; 1Jo 3, 1), ‘participantes da natureza divina’ (2Pd 1, 4)”
(CIC 1692).Relacionar-se com Deus não é muito diferente do relacionar-se
com um amigo. Nessa situação, o diálogo é fundamental. É através dele que os amigos
se conhecem e se dão a conhecer. É conversando que eles aprendem o que agrada a
um e desagrada ao outro, o que é bom pra um e ruim para o outro. No
relacionamento com Deus acontece o mesmo: o diálogo
é a oração. É
primordialmente através da oração que nos relacionamos com Deus: “Ainda que o
homem esqueça seu Criador, ou se esconda longe de Sua Face, ainda que corra
atrás dos seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e
verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração.
Essa atitude de amor fiel vem sempre em primeiro lugar na oração; a atitude do
homem é sempre resposta a esse amor fiel. À medida que Deus se revela e revela
o homem a si mesmo, a oração aparece como um recíproco apelo, um drama de
Aliança” (CIC 2567).Ainda em outro trecho, o Catecismo nos lembra a passagem
que representa o encontro de todo o homem com o Filho de Deus: a samaritana no
poço de Jacó (cf. Jo 4). “’Se conhecesses o dom de Deus!’ (Jo 4, 10). A
maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos poços aonde vamos
procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de todo ser humano, é o
primeiro a nos procurar e é Ele quem pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido
vem das profundezas do Deus que nos deseja. A oração, quer saibamos ou não, é o
encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede
Dele” (CIC 2560).Como na amizade, o diálogo tem de ser verdadeiro e, na oração,
nossas palavras devem ser autênticas. Não podemos cultivar uma relação frutuosa
com Deus apresentando-nos apenas com orações decoradas e escondendo o que
realmente sentimos. Muitas pessoas não descobrem o valor de um relacionamento
sincero com Deus porque não conseguem manifestar a Ele seus reais sentimentos.
Vestem uma máscara diante Dele e, não importa o que estejam passando, repetem
sempre as mesmas palavras de louvor e adoração. Se nosso espírito está abatido,
é assim que devemos nos apresentar a Deus. Se estamos com raiva ou tristes, não
podemos fingir que está tudo bem. É a Deus que devemos apresentar nossa raiva,
nossa tristeza e todos os nossos sentimentos. A primeira coisa que devemos
fazer para conquistar um relacionamento de intimidade com o Senhor é jogar fora
as máscaras e apresentarmo-nos diante Dele exatamente como somos.Existem
diversos tipos de oração. Em cada um, nos apresentamos ao Senhor de uma maneira
diferente e contemplamos sua Face de modo particular. Na oração de louvor, por
exemplo, nos apresentamos admirados e agradecidos por suas obras. O louvor não
existe apenas para as coisas boas da nossa vida. Se cremos que Deus é amor,
compreendemos que até as coisas ruins que nos acontecem são permitidas por
amor. Assim, louvamos também pelas coisas que não nos parecem boas. O louvor é
a oração do reconhecimento de Deus, ou seja, com o louvor reconhecemos sua
majestade, sua glória, seu poder. Da mesma forma, na adoração, na súplica, na
ação de graças, no pedido de perdão e nos diversos tipos de diálogo com Deus,
experimentamos sua Graça e sua misericordiosa presença. Vale lembrar as
palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Para mim a oração é um impulso do
coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor
no meio da provação ou no meio da alegria”. Um ‘impulso do coração’ é algo
espontâneo, que brota do mais íntimo do homem, que não pode ser contido por
fórmulas pré-estabelecidas e padronizadas.É importante destacar que essa oração
espontânea é fundamental para construirmos um relacionamento íntimo com o
Senhor, porém não substitui as orações ensinadas pela Igreja e que devem ser
cultivadas com zelo por todo o cristão. Mesmo na prática de orações recitadas,
é preciso que toda nossa alma acompanhe as palavras que recitamos: “Para que
essa oração seja algo próprio de cada um dos que nela participam e se torne
fonte de piedade e da multiforme graça divina e alimento da oração individual e
da ação apostólica, é preciso que nela a mente concorde com a voz, celebrando-a
com dignidade, atenção e devoção. Todos cooperem diligentemente com a graça divina,
para não a receberem em
vão. Buscando a Cristo e penetrando cada vez mais intimamente
em seu mistério mediante a oração, louvem a Deus e façam súplicas com a mesma
intenção com que o divino Redentor orava” (Instrução Geral sobre a Liturgia das
Horas nº 19).“De onde vem a oração humana? Qualquer que seja a linguagem da
oração (gestos e palavras), é o homem todo que reza. Mas para designar o lugar
onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito,
geralmente do coração (mais de mil vezes). É o coração que reza. Se ele está
longe de Deus, a expressão da oração é vã. [...] A oração cristã é uma relação
de Aliança entre Deus e o homem em Cristo. É a ação de Deus e do homem; brota
do espírito e de nós, dirigida ao Pai, em união com a vontade humana do Filho
de Deus feito Homem” (CIC 2565-2563).O Rosário, por exemplo, nos ensina a
contemplar os mistérios da encarnação assim como Maria os contemplou. O Ofício
das Horas nos leva a consagrar nossa jornada e elevar nossa mente e coração a
Deus nos diferentes momentos do dia. As orações e novenas dos Santos, além de
conquistar os frutos de sua intercessão pelo mistério da Comunhão dos Santos,
desabrocham em nós o coração suplicante de filhos que clamam. Todas essas
práticas devem ser incentivadas em nossos grupos, porém devemos sempre motivar
nossos jovens a buscarem desenvolver também a oração espontânea.É importante
também que guardemos esta verdade: a oração é graça, é um dom de Deus para o
homem que clama!Um fato concreto que eleva o relacionamento do homem com Deus
ao grau da intimidade é a graça vivenciada pela Igreja com maior intensidade
nesses tempos:

a efusão do Espírito Santo. O Batismo no Espírito derruba toda
barreira no coração humano para o relacionamento com Deus. É claro que sempre
devemos nos esforçar para fazer a nossa parte. A Efusão do Espírito Santo é,
portanto, o desabrochar da ação da Graça que pode ter ficado sufocada desde o
nosso batismo. O Magistério nos ensina sobre a ação do Espírito Santo na
Igreja: “O Espírito prepara os homens, antecipa-se a eles pela sua graça, para
atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes a sua
palavra, abrindo-lhes o Espírito à compreensão da sua Morte e Ressurreição.
Torna-lhes presente o mistério de Cristo, eminentemente na Eucaristia a fim de
reconciliá-los, de colocá-los em comunhão com Deus, a fim de fazê-los produzir
‘muito fruto’ (cf. Jo 15, 5.8.16)” (CEC 737).Os nossos Grupos de Oração são
terreno fértil e privilegiado para o desabrochar de um relacionamento fecundo
entre o homem e Deus. Mas não só neles devemos buscar esse
relacionamento. A oração pessoal é fundamental para crescermos em intimidade
com o Senhor. “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu
Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6,
6).O relacionamento de Jesus com seus discípulos não se dava apenas durante
suas aparições públicas, quando curava e pregava a Boa Nova. O momento
privilegiado do Mestre com aqueles que chamou a segui-lo dava-se à noite, no
monte ou na intimidade com os discípulos, sempre longe da multidão (cf. Mc 4,
10; Lc 9, 18; Lc 9, 28-36; Lc 18, 31; Mt 13, 36). É pela intensidade e pela
grande quantidade desses momentos que Jesus, na sua despedida, pôde dizer: “Já
não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas
chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15,
15). O relacionamento com Deus não pode ser apenas o relacionamento de um servo
com o seu Senhor. Devemos querer mais, devemos buscar uma amizade profunda com
o Senhor, através dos momentos de intimidade. Isso não virá apenas pelo nosso
esforço, mas pela Graça. Assim, devemos colocar-nos à disposição do Senhor e
fazer a nossa parte, pedindo a graça da intimidade com Deus ao Espírito Santo.
Portanto, importa estar sempre aos pés do Senhor. Essa é a pedagogia do Mestre.
Ele ensina na ‘escuridão’, falando ‘ao ouvido’: “O que eu vos digo na
escuridão, dizei-o às claras. O que vós é dito ao ouvido, publicai-o de cima
dos telhados” (Mt 10, 27).
QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas
de Vida e Relacionamento – Ministério Jovem RCC Brasil. Módulo Serviço –
Apostila I. 2ª edição.
Siglas:
GS - Constituição Pastoral Gaudium et Spes
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